Quando os engenheiros da Peugeot Sport agarraram no desportivo RCZ e o aprimoraram para este RCZ R conseguiram um automóvel ainda mais poderoso e pleno de garra , colocando no portfolio de ofertas da marca do Leão um modelo ainda mais exclusivo, único na história da marca. Afinal, com o RCZ R nascia o modelo de produção em série mais potente na história da Peugeot, com 270 cv a serem permitidos pelo motor 1.6 turbo com injecção directa a gasolina.
Com um binário máximo de 330 Nm permitido entre as 1.900 e as 5.500 rpm, esta versão R consegue assim uma raça ímpar para o Leão, curiosamente, e apesar da sua garra, capaz de responder às mais recentes exigências relativamente à defesa do ambiente, isto porque estamos que, segundo a Peugeot, emite qualquer coisa como 145 gramas de CO2 por quilómetro, permitindo uma resposta positiva aos padrões que virão a ser impostos pela norma de controlo de emissões Euro 6. Muitos poderão dizer que a pérola que era já o “normal” Peugeot RCZ tornava desnecessário aprimorar ainda mais este modelo nascido a partir da “familiar” plataforma do 308, mas depois de termos conduzido este Peugeot RCZ R só temos a agradecer aos engenheiros da marca gaulesa por tamanha ousadia.
Olhando para o RCZ dito normal, sem querermos insultar o Peugeot RCZ porque de “normal” já tem pouco, e comparando-o com o agora “musculado” RCZ R, começamos logo por identificar o primeiro pormenor de design que os distingue, através da colocação no segundo de um deflector traseiro fixo, desaparecendo o apêndice retráctil. Num modelo mais leve – o Peugeot RCZ R tem 1280 quilos de peso contra os 1287 do RCZ –, a relação de peso/potência é agora de 4,7 kg/cv, um valor que permite uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em apenas 5,9 segundos.
A paixão em torno deste modelo, nascida ainda com o primeiro RCZ, ganha força no primeiro olhar que depositamos no RCZ R, aumenta ainda mais quando nos sentamos ao volante e instala-se completamente em nós quando, rodada a chave na ignição, ouvimos o som do motor 1.6 THP, uma melodia que se torna ainda mais especial com este Peugeot em movimento, quando à sonoridade se une o encostar das costas ao banco devido à capacidade de aceleração deste bloco. A ergonomia permitida a partir da posição do condutor, num modelo que responde em pleno como se da nossa própria extensão se tratasse sobre o asfalto, torna tudo ainda mais agradável, num automóvel em que o único pecado resulta da sua menor capacidade de resposta a pisos mais degradados, algo que se compreende pela necessidade do Peugeot RCZ R manter um comportamento irrepreensível mesmo quando o levamos ao encontro dos limites.
44.580 euros de puro prazer
A suspensão mais dura mantém ainda assim os pneus Goodyear Eagle F1 Asymmetric colados ao asfalto, num modelo que apresenta um centro de gravidade ainda mais baixo do que o do seu “irmão” RCZ, para uma condução a apelar ao coração e ao gosto pelo mundo motorizado. Aliás, convenhamos que é preciso gostar mesmo do mundo à parte que é permitido por este modelo desportivo para que sobre ele possa recair a opção de compra.
Os aparentes quatro lugares são na verdade dois frontais mais dois traseiros, carecendo estes de alguma boa vontade da nossa parte para que os possamos classificar de “lugares”, isto porque quatro adultos, todos eles de estatura mediana, numa viagem de média distância já terão alguma dificuldade em chegar ao final sem grandes dores de costas, nomeadamente para os que viajarem atrás. Ainda assim, e porque quem corre por gosto não cansa, quem dá qualquer coisa como 44.580 euros por este “puro sangue” da Peugeot, certamente que o faz por paixão e puro prazer, consciente das características únicas do RCZ R.
Com uma capacidade de travagem que impressiona pela forma como permite o domínio deste automóvel raçudo, o Peugeot RCZ R devora curva após curva, deixando para quem se senta ao volante o prazer de dominar uma direcção precisa. Depois, avançando para viagens mais longas, apostando em auto-estradas com pisos mais “tranquilos”, a grande dificuldade passa a ser o controlo da velocidade, impondo-se o uso do sistema de “cruise-control” para serem evitadas eventuais surpresas permitidas pelos controlos feitos pelas autoridades.
Velocidade limitada aos 250 km/h
Chegados ao destino, e antes de sairmos do habitáculo, uma acção difícil para condutores de estatura mais elevada, não deixamos de olhar para a perfeição e nobreza dos materiais, num modelo automóvel em que quase tudo é de série, excepção feita ao sistema de alarme, a ajuda ao estacionamento dianteiro, também o equipamento de áudio Hi-Fi JBL e ainda o sistema de navegação, tudo junto para mais 1.985 euros sobre o preço base de 44.580 euros.
Por falar em valores, num automóvel cuja velocidade surge limitada electronicamente nos 250 km/h, os níveis de consumo não podem ser a preocupação condutor, que terá já que procurar fugir aos cantos das sereias da velocidade, aquelas que “adormecem” quem segue ao volante, não no verdadeiro sentido do termo, mas em relação à necessidade de evitar coimas e outras sanções devidos aos sempre evitáveis excessos. Ainda assim, sempre damos conta que o construtor anuncia para este Peugeot RCZ R médias de consumo de 6,7 litros a cada 100 quilómetros em percurso combinado, um valor que nunca conseguimos igualar, sendo certo que também não fizemos grande esforço para que tal fosse possível.
Cumpridos mais de meio milhar de quilómetros, concluídas as viagem e de volta à Peugeot Portugal, porque os anos não perdoam também a quem procurou retirar o melhor prazer do ensaio deste “animal” raçudo da Peugeot, trocámos a chave do RCZ R por outra de igual marca, mas para um bem mais familiar e tranquilo 308 SW ainda assim capaz de permitir uma condução igualmente agradável, ainda que naturalmente distinta. Nem melhor nem pior... diferente... para aqui contar mais tarde!
ensaio: Jorge Reis
fotos: JR/LusoMotores
http://www.youtube.com/watch?v=xU6HosioWXI&